sexta-feira, 14 de novembro de 2008

Um amor de prima

Minha mãe me criou sozinha, pois perdi meu pai aos dois anos. Ela sempre trabalhou, e nunca nos faltou nada, mas a grana sempre foi contada.

Apesar de ser funcionária pública, não tinha moleza, como reza o imginário popular; a chefe era braba e marcava em cima. Ela tinha uma função gratificada, e morria de medo de perder. Mais de uma vez fiquei doente e ela teve de ir trabalhar, me deixando com a empregada, certamente com o coração na mão.

Eu devia estar com uns treze anos e peguei uma virose dessas que jogam a gente na cama, mal-estar, febre. Mais uma vez ela não poderia faltar, mas naquele dia particularmente reparei como estava incomodada, talvez porque eu já era um pouco mais madura, começando a prestar um pouco de atenção ao sentimento dos outros.

Bem, ela saiu, e pouco depois minha prima apareceu de surpresa. Fomos criadas muito próximas, e ela tem oito anos mais que eu. Na época, esses oito anos faziam uma boa diferença. Mais alguns minutos e minha mãe liga pra saber de mim; minha prima atende:
- Oi, tia, a Cacau tá bem.
- Que bom que você está aí!
- Não se preocupa não, vou ficar aqui até você voltar. E fica tranquila, se precisar, eu dou um pouquinho de cicuta pra ela...
- Ah, minha filha, muito obrigada, não sei como agradecer!

Não, minha mãe não queria se livrar de mim. Mas ficou tão aliviada por ter alguém comigo que nem prestou atenção ao tratamento proposto pelo meu amor de prima...

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