domingo, 9 de novembro de 2008

Medo de avião

Eu tenho pavor de andar de avião, pânico mesmo. Fiz poucas viagens mais longas, mas todas foram torturantes. E isso é coisa antiga... Lembro que minha primeira experiência foi aos seis anos, e das pessoas me dizerem: olha, o Juscelino Kubitschek andava tanto de avião e morreu de acidente de carro... Isso e nada para mim era a mesma coisa.

Mas havia o sonho de conhecer a Disney... A oportunidade surgiu aos 27 anos, e logo no dia em que fui buscar o passaporte o que acontece? Cai o avião da TAM! Ai, só podia ser um sinal... Mas eu já havia pago o pacote a vista... Foram noites em claro até a data da partida, acordos com os santos pra que se tivesse que cair que fosse na volta, depois que eu tivesse me divertido bastante.


E chegou o dia: fui com uma amiga e o irmão dela, no meio dos dois, para ter apoio bilateral. É coisa de doido, mas a decolagem e a aterrisagem não me assustam, o problema pra mim é ficar lá em cima, meus pezinhos tão longe do chão... Mamãe lá longe... Me disseram que até Miami seriam umas nove horas, mas pegamos um tal de vento contra. E para mim, nove horas são nove horas, nove e um eu tinha que estar lá embaixo e nada. Comecei a me estressar, minha fisionomia se contraiu, a coluna retesou e meu amigo da esquerda, solícito:
- Tá tudo bem?
- Não fala comigo.
- Segura a minha mão...
- Não toca em mim. Eu quero descer.
Não sei se por compreensão ou medo dos meus punhos cerrados, ele ficou quieto. Logo em seguida, finalmente, terra embaixo dos meus pés! Que sensação maravilhosa!

A viagem foi fantástica, um sonho realizado... Mas ia chegando o dia do retorno e lá estava eu tentando retificar os acordos com o astral, aquela coisa de cair na volta não tinha necessidade, né...


No vôo de retorno resolvi tomar um copo de vinho. Que beleza... Avião bonito... Balancinho gostoso... Comecei a abraçar todo mundo... Fui abraçar o guia da excursão, que eu achava um gato, e descobri na volta que era gay... Virei para os meus amigos:
- Amo vocês...
- Ah, tá, a gente também.
- Amo os pais de vocês...
- Tá bom, obrigado.
- Amo a minha chefe...
Nesse momento eles viram que eu não estava bem mesmo, a danada era uma jararaca.


No ano seguinte, cheia de experiência, fui para Cancun com duas amigas. Na ida viajamos durante o dia, e para mim foi ótimo, pois o Lexotan que eu havia tomado me deixou mais elétrica que nunca. Ninguém dormiu, fomos conversando, e o tempo passou maravilhosamente bem. Mas a volta seria a noite, e resolvi repetir a experiência do vinho, só que dessa vez foram três copos. Gente... Eu ri muuuuuuuito... Lembro que tinha um senhor alto e careca umas duas fileiras a minha frente lendo o jornal, que tapava a tela em que estava passando sei lá que filme.
- Eu vou lá!
- Calma, senta aí, garota!
- Precilso falarr paara eile abaxar o jourrnall...
- SENTA!!!


Mas esse senhor era danado, tava me provocando... O fone de ouvido era daqueles que formavam um arco embaixo do queixo, só que ele resolveu colocar em cima da careca. Ficava aquele moço alto, desprovido de cabelos, com o fone de ouvido ao contrário, parecendo um ET.
- Agourra vou tê que irr lá...
- De novo não...
- Tenho que avisarr, tá errrrraado...
E ria que nem uma doida... Mas tava doidona mesmo!

A sorte dele é que me deu vontade de fazer xixi.
- Dá licença. Vou ao banhooeiro.
- Tá, vou com você.
- Me deixa. Vou solzinha.
E fui. Devo ter levado uns quinze minutos entre os trajetos de ida e volta, agarrada às poltronas e talvez aos seus ocupantes, quem sabe, e o xixi propriamente dito.


O restante do vôo seguiu sem intercorrências, talvez porque o vinho estivesse fazendo uma revolução em minhas entranhas ou talvez porque o senhor careca não tenha aprontado mais nenhuma.


No ano seguinte fiquei entre Argentina e Chile, aqui pertinho, vôos diurnos, tudo muito rápido. Mas de uns tempos pra cá com caos aéreo, quedas da Gol e TAM, falência da VARIG, meu medo ressurgiu com toda força... E agora é a vez dos sonhos dos pequenos...
- Mãe, posso ir à Disney?
- Pode, amor, mas só com a mamãe.
Imagina, minha filhinha, sem mim, voando por aí!
- Nas férias?
- Não, quando você estiver com uns trinta anos...

2 comentários:

Lilly disse...

Eu tb MORRO de medo. O que tem funcionado para mim ultimamente é tomar 2 pasalix e fazer palavras cruzadas... :)

Cacau! disse...

Pensei em tomat florais de novo, dizem que funciona... Só não tomei ainda porque avião também cai com quem não tem medo!