domingo, 30 de novembro de 2008

Mais uma do Chico

Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar agora e fazer um novo fim.

Chico Xavier

Neologismo

Minha filha chega animada da escola, vai participar da Culturarte, evento em que cada turma trabalha um determinado autor e seus livros.
- Mãe, vou ser a Narizinho!
- Legal! Vai ter dança?
- Vai, já estou ensaiando!
- Já sei, é aquela: Narizinho, Narizinho, sonha, sonha com amigos...
- Não, mãe, tá tuuuuuudo errado!
Adora me corrigir...
- É assim, ó: nariz, narizinho, narizinho arrepifado...
- Não, amor, é arrebitado!
- Manhê! É arrepifado! Eu falo do meu jeito!
Detesta ser corrigida... Desde pequena é assim, gosta de ter o seu jeito para tudo. E adora criar palavras. Algumas vezes a corrijo, outras acho tanta graça que incorporo ao meu vocabulário. É o caso do verbo "durar", que para ela é apertar qualquer coisa com força.
- Mãe, meu pai "durou" a tampa da cola, não consigo abrir!
Só não posso rir na frente dela...
- Mãe, você tá rindo de mim?
Cara de poucos amigos, cenho franzido, braços cruzados na altura do peito.
- Não, amor, pra você...
- Humpf!
Me dá as costas e assunto encerrado!

Amanhã

Mais uma noite sem dormir.
Mais uma manhã na emergência pediátrica.
Ouvidos, garganta, pele, articulações, abdômen sem problemas.
Criança esperta, ativa, hidratada.
Mas a febrinha persiste, intervalos curtos.
Preciso esperar até amanhã.
Que vai ficar tudo bem...

Hora do almoço

- Mãe, você consegue estalar os dedos?
- Consigo, ó!
E estalo para ela ver. Enquanto isso a comida esfria no prato, e uma colherada de macarrão com queijo e azeitonas já teima dentro da boca há uns dois minutos, pelo menos.
- Eu não consigo...
Diz isso ensaiando um movimento acrobático com os dedos da mão direita.
- Deve ser porque eu tenho dedos macios. Os seus são duros. Né, mãe?
Ela sabe que eu adoro esse: "né, mãe?" Fala sempre que quer desviar minha atenção de algum assunto.
- Come, M.!
Esse ritual se repete diariamente. Uma vez ela disse ao pai que o almoço é a pior hora do dia.
- Acho que quando eu tiver seis anos eu consigo. Né, mãe?
É...

Rito de passagem dos Cherokees

Só porque disse outro dia que não tenho paciência com e-mails, venho recebendo uns interessantes ultimamente. Aí vai mais um:

Rito de passagem dos Cherokees

O pai leva o filho para a floresta durante o final da tarde, venda-lhe os olhos e deixa-o sozinho.
O filho se senta sozinho no topo de uma montanha toda a noite e não pode remover a venda até os raios do sol brilharem no dia seguinte.
Ele não pode gritar por socorro para ninguém.
Se ele passar a noite toda lá, será considerado um homem.
Ele não pode contar a experiência aos outros meninos porque cada um deve tornar-se homem do seu próprio modo, enfrentando o medo do desconhecido.
O menino está naturalmente amedrontado.
Ele pode ouvir toda espécie de barulho.
Os animais selvagens podem, naturalmente, estar ao redor dele.
Talvez alguns humanos possam feri-lo.
Os insetos e cobras podem vir picá-lo.
Ele pode estar com frio, fome e sede.
O vento sopra a grama e a terra sacode os tocos, mas ele se senta estoicamente, nunca removendo a venda.
Segundo os Cherokees, este é o único modo dele se tornar um homem.
Finalmente... Após a noite horrível, o sol aparece e a venda é removida.
Ele então descobre seu pai sentado na montanha perto dele.
Ele estava a noite inteira protegendo seu filho do perigo.

Quando começamos a leitura, o final já é até previsível, mas não importa. Esse é um ritual de fé. Essas crianças precisam acreditar que os pais não as colocariam em riscos desnecessários, e confiam.

Algumas vezes precisamos nos jogar assim, de cabeça, e confiar. Confiar em nós, em quem amamos, em Deus. Esse nosso mundo nos faz tantas vezes perder a fé, fechamos os olhos por pura descrença...

Só que é o contrário, essa dureza que nos rodeia deveria aumentar a nossa capacidade de deitar nos braços de quem alguns chamam de Jesus, Messias, Alá, Maomé, Buda, Força Superior, Deus... Tantos nomes para um só amor. Mas deitar só um pouquinho, e logo levantar revigorados para lutar com mais afinco.

Quero ser assim quando crescer.

Sorte do dia

"A pessoa que lê sua sorte está doente. Seja saudável."
???

sábado, 29 de novembro de 2008

Greta Garbo, quem diria, acabou na Tijuca

Uma antiga chefe me encontrou na cantina fazendo um lanche:
- Comendo um salgado sozinha? Tá maluca?
- Hã?! Qual o problema?
- Ah, isso a gente faz com mais alguém, sozinha não tem graça.

Ela é meio exagerada, mas dessa vez pegou pesado. Afinal, estava desfrutando de dois prazeres: comer (adooooro!!!) e a minha companhia!

Fui criada muito sozinha, ansiando por uma família grande. Mas hoje, casa cheia, sinto falta de alguns momentos por dia comigo mesma. Quando isso acontece, pego a bolsa e invento alguma coisa pra fazer na rua. Vou andando devagar, apreciando o comércio tão conhecido da vida inteira, lembrando de lojas antigas que fecharam e que recheiam minha mente de lembranças.

Quando era criança, era obrigatório lanchar no Palheta após uma sessão de cinema no Carioca ou no América. A lanchonete agora é uma farmácia que serve o famoso café num quiosque minúsculo; os cinemas, um é uma Igreja Universal, o outro, mais uma farmácia.

Engraçado, comecei falando sobre uma coisa e descambei pra outra. Só pra concluir: esses passeios acabam ocasionalmente em um Shopping, tomando um capuccino ou um carioca, pensando na vida... Companhia é bom, mas tal e qual Greta Garbo, tem horas que I want mesmo é to be alone! Na boa.

Ah, outra hora falo mais sobre essas nostalgia do passado.

Gigantes

Ventania. A árvore do Harry Potter tá tentando me pegar. Não sei como minha filha ainda não teve pesadelo com ela.

Outro dia ela acordou emburrada e se jogou na minha cama, cabelos totalmente desgrenhados, cara enfiada no travesseiro:
- Humpf!
- Que houve?
- Você não me salvou do gigante!!!

Ela tem pesadelos recorrentes com gigantes... Mas nunca tinha misturado sonho com realidade, ela estava mesmo zangada comigo.
- Eu?
- Você! O gigante me pegou e ele tinha uma gosma verde que jogou em mim antes de me engolir, mas o papai furou a barriga dele e voou gosma pra todo lado!!!
Nesse ponto ela já estava mais calma.
- Viu? Mas o papai te salvou! E foi só um sonho... Esse gigante deve ser um bobão...
- É mesmo, né, mãe?
E ganho um grande abraço de bom dia. Acho que fizemos as pazes.

Bela Catarina

Santa e bela Catarina. Que tristeza acompanhar os acontecimentos pelo noticiário...

Aos treze anos fiz uma excursão pelo Vale do Itajaí e me encantei por Blumenau. Parecia uma cidade de boneca! Ruas limpinhas e arborizadas, casas todas bem cuidadas, naquele estilo típico europeu. Pouco depois a cidade foi assolada por uma enchente de grandes proporções, dava a impressão de que dificilmente voltaria a ser o que era.

Mas voltou! Sua gente batalhou pela recuperação, e o resultado foi a criação de uma grande comemoração, a Oktoberfest.

Dá para confiar que tudo, um dia, vai voltar à normalidade. Mas certamente com profundas cicatrizes deixadas por tantas perdas...

Telefone sem fio

Quem conta um conto aumenta um ponto. Ou até dois.

Ontem pela manhã estava no refeitório com colegas em um coffee break, já abrindo as comemorações de fim de ano.

De repente vejo a secretária, séria, se aproximar:
- A babá pediu para você ligar pra casa que a sua filha está passando mal...

Sabe aquelas horas em que parece que tudo escurece? Saí correndo que nem uma celerada, pois o celular não pega ali nas redondezas da cozinha; o pior é que nem no estacionamento funcionou, tive que desligar e ligar o bichinho de novo para ele voltar à vida.
- Mãe, que houve?!
- A K. tá com 37,8ºC, quero saber se dou remédio...

Bem... A notícia da febrinha passou pela telefonista e pela secretária até chegar a mim; Deus me livre se tivesse mais gente no caminho!!!

Caos

Tem horas que parece que tudo acontece ao mesmo tempo.

Lá pelas três da tarde de ontem recebi uma ligação da minha chefe para avisar de um problema que teria que resolver com a maior urgência. Só que para isso necessitava de um material que estava no trabalho. Peguei a neném, coloquei num táxi e fui para lá.

Com o que precisaria em mãos, meu marido foi nos buscar, e vim pelo caminho com a cabeça fervilhando sobre como responderia ao que me foi solicitado. Chegando em casa, cadê tranquilidade? A mais velha estava numa crise de carência, me seguindo por toda parte para saber o que eu estava fazendo, a menor, com febre, não parava de chorar enquanto o pai lhe dava banho, e a casa estava uma bagunça. Quando achei que nada poderia piorar, meu marido avisa que teria que sair para concluir um trabalho.

Ai... Juro que fui pro banho, sentei e chorei... Deixei a água escorrer por um tempinho até relaxar e pensar com mais calma.

Feito isso, consegui colocar as duas para dormir, arrumei a casa, e na quietude e semi-escuridão, sentei ao computador e às 2:09 da madrugada coloquei um ponto final na justificativa que terei que enviar segunda-feira, first thing in the morning. Tudo bem, não era nenhum bicho de sete cabeças, mas o assunto merecia ser bem pensado e resolvido.

Fui dormir às 4 da manhã, a neném enjoadinha por causa da febre, mas hoje, felizmente,tudo já está no seu lugar.

sexta-feira, 28 de novembro de 2008

Gritos e sussurros

Recebi outro e-mail hoje digno de nota, mensagem creditada a Gandhi. Pode até não ser, mas é a cara dele: fala sobre um encontro seu com discípulos em que questiona o porquê de gritar quando se está aborrecido. Ao final, após receber algumas explicações pouco convincentes, conclui: " é que quando duas pessoas estão zangadas uma com a outra, seus corações se afastam, e é preciso que gritem para superar a distância. Ao contrário, se estão felizes, os corações se aproximam e muitas vezes não é necessário mais que um sussurro para que se entendam."

Tenho uma experiência interessante em casa. Toda vez que perco a paciência (como toda mãe que se preza) e grito com minha filha, ela se assusta e o resultado nunca é o esperado, ou seja, se ela obedece, o faz contrariada. Mas se consigo respirar fundo e respeitar minha natureza, a chamo para bem perto de mim e peço ao seu ouvido que faça o que peço, explicando o porquê. Posso afirmar que o resultado é quase sempre positivo, e o coração fica bem mais leve.

quinta-feira, 27 de novembro de 2008

O lado bom

Mas vamos falar do lado positivo do orkut. Através dele, tive oportunidade de reencontrar amigos perdidos (né, lilly?) e até familiares. Mês passado mesmo localizei um primo que não vejo há uns vinte anos através de seu filho, homônimo. Tem esse e mais uma menina e eu nem sabia.

Legal mesmo foi retomar contato com o pessoal do colégio, tão querido... Alguém teve a boa idéia de criar uma comunidade de formandos do meu ano; ela cresceu e extrapolou as fronteiras do site, e no final de 2006 fizemos uma festa de comemoração de 20 anos de formatura que foi o máximo!!!!

Fora as comunidades que se destinam a prestar serviços; faço parte do Grupo Virtual de Amamentação, que apóia e esclarece uma infinidade de mães com dúvidas ou dificuldades relacionadas a aleitamento. Tem moderadoras interessadíssimas, sempre prontas a ajudar ou dar pelo menos uma palavra confortadora.

Para quem não conhece e já odeia, esse negócio de só aparecer na mídia associado a grupos de pedofilia ou de incentivo à violência, assusta. Mas isso passa longe de nós, gente do bem... E como quase tudo na vida, sabendo usar, selecionando quem aceitamos para amigos e o que divulgamos, é uma ferramenta pra lá de positiva!

E coincidentemente, no post anterior, quando falei da cisma, a imagem foi pro lado esquerdo; neste, das vantagens, ficou do direito. Mas foi só coincidência mesmo, tá? Lado esquerdo não tem nada de sinistro, afinal, sou canhota com muito orgulho!

Cisma

De vez em quando fico cismada com o orkut. Tem sempre alguém que vem e fala pra tomar cuidado, muita gente vê, não bota nada pessoal... Já havia feito minhas configurações para que fotos e recados só possam ser vistos ou enviados (no caso dos recados, que eu também vejo e apago) por amigos, mas ontem me toquei que as capas dos álbuns ficam visíveis para todos. Resolvi, então, adicionar um desenho fofo da minha filha para esse fim. Também coloquei no meu perfil uma foto minha, tirei a que incluía a família. Ah, e saí de todas as comunidades que pudessem identificar meu local de trabalho ou qualquer outro detalhe mais pessoal. Terminei o processo satisfeita, espero não ter deixado nenhum ponto descoberto...

Alexandre

Não tenho muita paciência para ler e-mails. Aqueles enormes, que levam séculos para abrir, então, nem pensar. Depois que você lê os 30 primeiros e acha interessante, começa a perceber que são todos muito repetitivos, fora as lorotas de internet. O que chego a ler, o faço bem desconfiada. Outro dia fui pesquisar a tal da lei dos 20 minutos de espera na fila do banco, e para minha surpresa, ela existe, é do Carlos Minc.

Repassar, é uma raridade. Só se for algo que ache muito interessante ou fofo. Quase nem recebo mais nada, as pessoas meio que cansaram de esperar novidades de mim. Minha prima já sabe, quando quer que eu leia, coloca no assunto: "Cacau, abre esse!"

Mas esses dias li algo que achei legal, fato creditado à Alexandre, o grande. Se não for real, vale para refletir um pouquinho; diz que ao morrer ele fez três pedidos: que fosse carregado em seu cortejo fúnebre pelos médicos da época, que suas riquezas acumuladas fossem jogadas ao chão durante o trajeto e que suas mãos ficassem para fora da urna funerária. Explicação: os médicos deveriam carregá-lo como exercício de humildade, para que assumissem não ter poder sobre todas as coisas; as riquezas ao chão para mostrar que os bens acumulados aqui permanecem; e as mãos vazias, pois assim chegamos ao mundo e assim partimos.

Acho que não preciso nem comentar, o texto chega a ser simplório, carrega em si uma lição moral que quase sempre é uma coisa estanque, chata, mas tem fundamento. E é isso.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Sarna!

Bem, continuando a linha hospitalar e a série tem coisas que só acontecem comigo, lá vai mais uma:

Minha mesa de trabalho fica bem próxima à porta, e é comum que cheguem mães de pacientes e se aproximem de mim. Geralmente dou um jeitinho simpático de não deixar as crianças mexerem nos objetos que usamos, mesmo porque elas podem estar com alguma contaminação. Mas um determinado dia estava com a guarda abaixada quando uma menininha simpática chegou perto de mim.
- Tia, que é isso?
- É o meu estojo, mas você não pode pegar...
Nesse ponto ela já tinha manuseado lapiseira, caneta, borracha e tudo o mais que estivesse a seu alcance.
- Tá bom... Relógio bonito!
Disse isso, obviamente, colada ao meu braço, com o dedinho no mostrador.

Bem, finalmente mãe e filha resolveram seu problema e foram embora.

Qual não foi minha surpresa, uma vez na enfermaria, quando li no relatório da enfermagem que a menina estava em precaução de contato:
- AAAAAi, escabiose!!!!! Ela foi lá na sala e se esfregou em mim e nas minhas coisas...
Nisso toda a enfermagem do setor ria de mim. Caso alguém não saiba, escabiose=sarna.
- É melhor você se lavar com bastante água e sabão...

Não preciso dizer que tomei outro banho de álcool a 70%, né?

Neuras

Acho que toda mãe tem suas neuras. A minha é meningite. Atualmente a dengue também, mas meningite, sei lá porque, é hours concours.

Certa vez estava em um final de plantão quando vi uma criança ser transferida do CTI para o isolamento. Resolvi me adiantar e conversar com a mãe ali no corredor mesmo.
- Oi, mãe, está indo para que leito?
- Ainda não sei...
- O que o bebê tem?
- Meningite.

Minha reação foi instintiva: parei onde estava e dei dois passos para trás.
- Ah, tá bom...
E me afastei rapidamente. Na minha sala, sabe lá Deus porquê, peguei o frasco de álcool a 70% e passei pelo corpo, cabeça, cheirei... Minha colega estranhou:
- Calma, você vai beber?

Acho que esse medo de trabalhar em hospital e levar alguma contaminação pros filhos não deve ser só meu. Resolvi falar com uma enfermeira amiga:
- I., tô com medo, tive contato com a criança com meningite...
- Fica tranquila, ela já fez 24 horas de antibiótico, não tem mais risco de contágio. Mas pra você ficar mais tranquila, faz uma solução meio-a-meio de água oxigenada 10 volumes e água filtrada e faz bochecho, isso vai limpar sua cavidade oral de possíveis micoorganismos indesejados.

Meu marido já estava me esperando na cantina. Ao me ver se aproximou para me beijar:
- Pára aí!
- Porquê?
- É que estive com uma criança com meningite.

Coincidentemente, ele parou e deu os mesmos dois passos para trás que eu.
- Vai pegar a M. na creche e dá uma enrolada por aí. Eu vou pegar um táxi e comprar água oxigenada, que a I. mandou, para dar uma descontaminada.

Assim fizemos. Chegando em casa deixei a roupa suja na área e acho que nunca me esfreguei tanto num banho. Quanto ao bochecho, fiquei um bom tempo achando que se eu abrisse a boca iriam sair bolhas. E quando minha filhinha chegou, estava devidamente higienizada para recebê-la.

Isso foi há uns dois ou três anos, felizmente a criança ficou bem e não contaminei ninguém. Cabeça de mãe é coisa que ninguém explica...

Noite em claro

Essa noite foi complicada, a neném não estava bem. Comecei achando que era dente, ela estava irritada, chorosa, sem comer. Mas de madrugada começou a vomitar tudo que lhe caía no estômago (no caso, LM). Às 5 da manhã fui para a emergência, mas não ouvi nada de conclusivo. Felizmente, depois de tomar o remedinho pra enjôo e o reidratante, está melhorando.

Tem coisa pior que filho doente?

terça-feira, 25 de novembro de 2008

Filha única

Sou filha única, e acho que isso me faz um tanto esquisita. Costumo falar sozinha, faço perguntas que eu mesma respondo e me congratulo quando descubro um modo mais fácil de fazer alguma coisa.

Outra mania é a de deixar a televisão ligada. Desde pequena, ligar a TV é a primeira coisa que faço ao chegar em casa. Talvez isso explique porque eu gosto de Big Brother (pronto, confessei!) Compro o pay per view e deixo eles lá, conversando, enquanto faço outras coisas. É como se a casa estivesse cheia.

Mas hoje as crianças dormiram cedo, a pequenininha está enjoada, adormeceu choramingando, sem querer mamar ou comer outra coisa. E eu estou aqui no computador, no escuro... Vou já, já mudar o canal da minha companheira, essa novela das nove na quietude e penumbra em que me encontro é de arrepiar...

Cada um no seu quadrado

Quando era mais nova já fui muito estourada. Não do tipo de gritar, esbravejar, era mais o tipo defensora dos frascos e comprimidos. Se achava que estavam mexendo com amigo meu, ou acontecendo alguma injustiça, lá estava eu, exigindo retratação.

Ah, mas isso é tão cansativo... Saía da casca a combater dragões imaginários, muitas vezes em defesa de pessoas invisíveis, que me atiçavam à luta e depois se escondiam quando o bicho pegava. O pior é que, na maioria das vezes, eu ficava mal com minha reação, enquanto todos ficavam bem, na paz.

Mas não há bem maior que o amadurecimento, processo doloroso, mas necessário. Quando me dei conta do mal que fazia a mim mesma, e do pouco ou nenhum bem que esse tipo de comportamento traz, foi uma libertação... Para que me ocupar com a vida dos outros? Mesmo com boa intenção, estava interferindo em assunto de adultos, todos capazes de se entender, desentender, defender ou debater!

Hoje busco a conciliação... Perco até a cabeça algumas vezes e luto pelo que me diz respeito. Se o assunto não é meu, tento opinar apenas se for consultada, de forma que o conflito possa ser suavizado. Pra que tanta briga, né? Cada um no seu quadrado! (Adoro isso!!!!)

Babavó

Minha mãe nunca gostou de acordar cedo. E deu sorte de ter horários de trabalho sempre a partir das 11 ou 13 horas. Mas agora, depois de aposentada, está fazendo um bico de "babavó".

Como entro às 7 no trabalho, fiz o seguinte esquema: acordo às 6, a neném mama 10 minutos em cada seio e depois a deixo na cama da minha mãe. No início deu tudo certo, ela continuava dormindo e ficava todo mundo feliz. Mas de uns tempos pra cá ela deu pra despertar, e ao sair vejo que ela fica sentadinha na cama, minha mãe com cara de sono sem conseguir fazê-la adormecer novamente. Fico com pena, mas não consigo deixar de achar graça...

segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Cabeça oca

Meu marido é um cabeça oca. Ele esquece tudo e qualquer coisa que se possa imaginar. E não encontra nada, pode o objeto estar na frente dos seus olhos que ele não enxerga.

Só um exemplo: nossa filha voltava da creche com uniforme limpo, banho tomado. Quando chegava em casa, diariamente eu tirava a roupa e deixava nas costas da mesma cadeira para que ele a arrumasse na manhã seguinte. Mas era sempre a mesma coisa:
- Cadê o uniforme da menina?

Ih, comida e frutas ele já esqueceu muito no carro, compra e não traz para casa. Depois encontra pelo cheiro. Mau cheiro.

Chaves do carro e carteira, cada dia param num lugar diferente. E depois eu que tenho que dar conta do paradeiro... Vou confessar: às vezes faço uma maldadezinha, mesmo sabendo onde está o perdido, deixo ele dar uma procuradinha básica...

Minha sogra acabou de telefonar perguntando se gostei da toalha que me mandou.
- Que toalha?
- A que mandei pelo A.!
- Ih, não me deu nada, não...
- Ah, minha filha, liga pra ele e manda tirar do carro, senão vai apodrecer lá antes que ele lembre!

Ainda bem que ela sabe o filho que tem, hehe...

Controle de qualidade zero

Eu como no La Mole desde que me entendo por gente. E desde sempre minha mãe come filé com fritas, mal passado.

Nos últimos tempos ela pede sistematicamente esse prato pelo menos uma vez por semana e divide com minha filha, que é louca por molho madeira. Olha, mas tá difícil... Tem hora que vem frango, medalhão, filé esturricado! Outro dia reclamei e mandaram em troca uma carne sem um pingo de sal ou tempero, maldade...

Hoje consegui falar com a supervisora, depois de ter recebido mais um filé esturricado e, ao invés de batata palito, portuguesas moles, numa quentinha rasa. Ela queria me mandar uma cortesia. Puxa, não quero cortesia, quero receber aquilo que peço e pago, com a mesma qualidade do restaurante, tô errada?

Cachoeira abaixo

Não sou dada a aventuras. Se for algo que me ponha em risco, nem pensar. Prezo muito esse corpinho que Deus me deu, mesmo porque é o único que eu tenho. Mas já fiz minhas estripulias...

Estava em Visconde de Mauá com amigos, terra de bicho grilo. É um lugar legal, zen, paz e amor... Uma vez por lá não há como não conhecer Maromba e o "escorrega natural", uma pequena queda d'água perfeita para ser usada como tobogã. Dá para ver, pela foto acima. Obviamente fiquei de fora, só vendo o pessoal se divertir, uma amiga também pouco corajosa comigo. Ainda mais que fazia um friozinho e uma chuva chata teimava em cair.

Mas o B., esse não tem medo de nada. Desceu de frente, de costas, uma, duas, três, sei lá quantas vezes. Foi me dando uma vontade...
- Eu vou!
- Tá doida? Se você for mesmo te dou um milhão.

Não pensem que minha amiga apostou alto, era época do cruzado, cruzado novo, cruzeiro novo, sei lá que moeda. Cheguei a ter contra-cheque de dois milhões...

- Vou sim. B., vai comigo?
- Junto não dá, que é perigoso, mas vou logo atrás.

Trato feito! Pelo que eu tinha visto era fácil, o pessoal descia rapidinho e saía nadando prontamente.

Mas a visão quando se está lá em cima é outra. Ai, meu Deus, e agora?

- B., você vem logo depois, né?
- Vou. Tem certeza que quer ir?
- Tenho!

E sem pensar muito mais, splash! Lá fui eu!

Querem saber o que senti? Sei lá! Foi muuuuuuito rápido! Só me lembro do B. me agarrando pelos cabelos e me tirando da água, furioso:
- Sua doida! Porque não me disse que não sabia nadar?
- Ué, precisava? Tava todo mundo saindo daqui tão fácil...
- Porque sabem nadar!!!

É, fazia sentido... De fato, no fim da descida, me lembro de afundar rapidamente, mas logo fui resgatada pelo salva-vidas B., nem percebi o risco que corri. Só sei que tremia muito, de frio, excitação e repetia compulsivamente:
- Muito bom, muito bom!!

Ah, lembro também da cara de desânimo da amiga que perdeu a aposta (mas nunca pagou o milhão), que se sentiu obrigada a me acompanhar na façanha:
- É, se até você foi, tenho que ir também...

Desculpei esse "até você". Nada abalava a satisfação de ter superado meus medos e limites...

domingo, 23 de novembro de 2008

Vida selvagem

Puxa... Nem Flamengo, nem Vasco, perderam os dois. Resta torcer pro Ipatinga... Essa é a mais cruel de todas!

A tarde hoje foi proveitosa, saí com minha mãe, duas crianças a tiracolo, minha prima e o marido com mais dois anjinhos. Isso tudo embaixo de chuva. Fomos procurar casa de festa pro aniversário de 1 aninho da minha pequena, em fevereiro. Como ela faz um dia depois da prima, vamos comemorar junto. E achamos uma casa nova, lindinha, acho que vai ser bem legal.

Mas gente... Administrar essa criançada... Foi um tal de bola de futebol voando no garçom, descida pelo tobogã que já havia sido proibida, criança saindo descalça porque arrebentou a sandália e duas perdidas no final, invadindo a festa que estava rolando... Com isso tudo, não sei nem direito o que tem no contrato que assinei! Espero ter acertado pelo menos a data...

Essa é a tal da vida selvagem!

Saudades da lilly

Minha amiga lilly está com problemas no provedor. Parece que a coisa está se arrastando, ontem ela me mandou um comentário dizendo ter apelado para um cyber café.

Como a gente fica refém dessas coisas, né? Minha prima comprou um computador e teve problemas com a banda larga, ficou mais de um mês com o bichinho lá, sem usar. O pior mesmo é ter que depender daqueles funcionários despreparadérrimos de telemarketing, só sabem transferir a gente pra lá e pra cá num tal de: "estaremos resolvendo seu problema, senhora..." Um dia já totalmente exaurida, gritei: "pelo amor de Deus, usa o tempo verbal corretamente"!

Eu sei que depois que a gente cria o hábito, fica difícil imaginar a vida sem essas máquinas odiosas e maravilhosas. Imagina, ficar sem escrever no meu bloguezinho querido? Ia ficar tristíssima!

Volta logo, lilly!

Sobre adoção

Desde menina pensava que quando adulta gostaria de adotar um bebê. Um pensamento bem abstrato, mas que hoje ainda me visita.

Quando engravidei a primeira vez comecei a duvidar se o amor seria o mesmo entre um bebê gerado e um acolhido. Afinal, havia passado pelo anseio de engravidar, mais nove meses de convívio na barriga, chutes, ansiedade... Um bebê parecido com a minha família...

Mas a primeira experiência de segurar aquela coisinha nos braços é inesquecível! Naquele instante não consegui ver se ela parecia com alguém, só pude sentir que era minha. E, dali em diante, se viessem me dizer que aquele bebê havia sido trocado, ia ser difícil levá-la de mim, pois o elo já estava formado, era minha filha e pronto.

Agora já tenho mais uma, e de fato, da barriga, não tenho planos de ter mais nenhum. Mas a mais velha pede:
- Mãe, quando eu tiver sete anos vou querer um irmão menino, Pedro.
- Ah, mas a gente pode pegar um neném pronto? Aí a mamãe não fica enjoada, barriguda, não vai pro hospital e a gente vai ter certeza que é menino, o da barriga Papai do Céu decide...
- Tá bom, mãe! A gente pega um prontinho!

Trato feito! Quem sabe? Essa vida é cheia de surpresas...

Dificuldades na cozinha

Sou péssima na cozinha, péssima mesmo.

Meu marido trouxe um bobó para o almoço de hoje e fui fazer um arrozinho básico para acompanhar. Conclusão: ficou queimado, salgado e duro... Essa coisa de fogo alto, brando, baixo, me confunde muito; a quantidade certa do sal, nem se fala. E ainda tem que acertar o tempo de cozimento! Ah, mas o bobó tava bom, coloquei por cima e tudo foi festa.

O pior é que ontem eu já havia queimado o feijão da neném, hoje rolou potinho mesmo...

sábado, 22 de novembro de 2008

Mania


Meu bebê gosta de bater com a cabeça. Batidinhas leves, mas gosta. Nesse exato momento ela está cabeceando o vidro da porta da varanda. Bom, também deve estar encantada com a imagem refletida...

Mais um presente

Bem, e já que nada acontece por acaso, depois do episódio de ter saído com os produtos da loja sem pagar, pensei em dar o valor dos mesmos a alguém que precisasse, R$ 50,00. Fiquei com isso na cabeça e não comentei com ninguém, fiquei esperando a oportunidade.

E ela surgiu rápido. Estava no CTI evoluindo alguns prontuários quando ouço a secretária, moça humilde, ao telefone: "é, não sei se vai dar para fazer a festa da minha filha, faltam R$ 50,00..." Caramba! A menina tinha a mesma idade da minha, nasceram no mesmo mês. Não preciso dizer que ela teve a sua festinha, né? Mais um presente da tal loja...

Presentes inesperados

Passei por quatro situações esquisitas com uma determinada loja, dessas grandes, que vendem de tudo também pela internet.

Da primeira vez fui comprar um aparelho de DVD para uma amiga, do computador do trabalho. Fiz tudo certinho, passo-a-passo, e na última página aparece aquela mensagem de "problemas para concluir a operação". A gente fica meio sem pai nem mãe nessa hora, né? Bem, avisei à moça e ela comprou em outro lugar. Só que na 2ª a encomenda chega! Ela devolveu, reclamei pelo telefone, e sabe qual foi a solução? Recebi o extorno do valor integral da compra no cartão e continuei pagando as prestações... Até que não foi mal, tava meio dura mesmo na época.

Na segunda, estava com meu marido e filha mais velha na loja física, como chamam. Fui pegando o que queria e apoiei no carrinho da menina o que não deu nas minhas mãos. Me distraí, e quando fui pagar, cadê o marido e a criança? Estavam lá fora, eles, o carrinho e os produtos... Meu marido não percebeu que eu tinha deixado coisas ali, muito menos o segurança. Achei que não ia ser uma boa voltar e dizer: "oi, roubei sem querer..." No mínimo alguém ia perder o emprego.

Alguns anos depois, nova compra pela internet, um aparelho de ginástica. Coloquei em 10 vezes no cartão e deixei pra lá. Um belo dia, verificando a fatura, observei duas compras nessa loja, valores idênticos, dias próximos. Cobraram o aparelho duas vezes! Bem, o final da história é igual ao primeiro caso, empréstimo compulsório.

E o último foi agora, no dia das crianças. Fui comprar uns brinquedos, presentes da avó paterna. Paguei no cartão sem prestar atenção ao valor, e vim pra casa. Minha mãe já ia jogar a nota fiscal fora, mas consegui resgatá-la antes que chegasse à lixeira; é sempre bom guardá-las para eventuais trocas. E observando a danada... Cadê a boneca de R$ 60,00? Não estava ali! Mas lembro de ter visto a caixa passar o leitor do código de barras por ela. Mais um presente involuntário...

O que essa loja deve tomar de calote, hein? Só espero que não vá a falência por falta de organização!

Amenidades

E o vasco, hein? Tô torcendo muito por eles nesse jogo com o São Paulo. Tudo bem, tem uma segunda intençãozinha, já que sou flamengo. Mas fico com pena dessa coisa de risco de rebaixamento, clube tão grande, torcida maior ainda.

E essa megarrampa, que doideira... Não consigo deixar de pensar no que faz adultos jovens terem esse instinto suicida. Descer uma rampa de 27 metros, sem nenhuma garantia de segurança além daquele humilde capacete, para mim é no mínimo burrice. Sempre tive um espírito de conservação muito arraigado, só tenho esse corpinho mesmo, tenho que cuidar. Ainda mais agora, com duas crianças para criar. Outro dia ouvi por aí que depois que temos filhos viramos coadjuvantes da própria vida.

Ah, é que estou escrevendo enquanto assisto ao Globo Esporte...

Um sonho de pousada

Fui com um grupo de amigos passar um feriadão, acho que finados, em Conservatória. A cidade é muito bonitinha, a gente se sente no início do século passado, música ecoando por todos os cantos do lugar.

Ficamos numa pousada no mínimo... esquisita. O gerente, cara amarrada, soube mais tarde que não acietava negros e crianças (?!) Pena que foi bem mais tarde mesmo, tipo quase voltando. E o lugar... Uma piscina às moscas, que servia de bebedouro ao cachorro vira-lara que perambulava por ali, uma rede de vôlei em meio a um gramado crescido e mal-cuidado, e da comida, não vou nem falar, dá pra imaginar. Mas com 20 anos a gente topa qualquer coisa, né...

O quarto, então, era a apoteose. Duas camas antiguiiiiinhas e entre elas um criado-mudo com um rádio tipo aqueles que a gente vê em filmes da década de quarenta. O banheiro não tinha porta, a gente tinha que avisar: "não vem não, tá ocupado"! Pra completar o chuveiro era separado por um murinho, nada de cortininha, pelo menos. A gente tinha que se expremer em um espacinho de uns trinta centímetros para entrar, ou seja, qualquer um com uma circunferência abdominal um pouco mais avantajada ficava sem banho.

Só para encurtar a história: resolvemos tirar uma foto nesse quarto, o grupo todo, aproximadamente umas dez pessoas. Todos se amontoaram em cima de uma das camas e eu fui armar o automático da câmara que ficou apoiada na janela, eu pelo lado de fora. Tudo pronto, disparei a bichinha e saí correndo para entrar na foto também. 3, 2, 1, e... puff!!! Registro fotográfico feito, e para finalizar, acompanhando o espocar do flash, a cama e todos os seus ocupantes desabaram pesadamente... Tenho a foto até hoje, mas o nome e o endereço da pousada, infelizmente, não tenho mais para indicar...

Mais uma citação

"A vida não é para quem pára em qualquer topada, mas para quem topa qualquer parada".

Essa frase é muito legal. Sábia Waldete. Com W.

Reflexão

"Queremos um mundo melhor para os nossos filhos, mas para isso precisamos dar filhos melhores para o mundo."

Li essa frase hoje no orkut de uma amiga. E me fez parar pra pensar alguns instantes.

Não entendia quando era criança e diziam que o futuro estava em nossas mãos. Achava uma responsabilidade muito grande, e eu, sempre tomada por preocupações, ficava um pouco mais assombrada. Só para ilustrar um pouco da minha personalidade, lembro de ter nove anos e me ocorrer a seguinte idéia: "já tenho 9 anos e ainda não fiz nada da minha vida"! O que eu poderia ter feito com essa idade?

Na verdade, o futuro está em nossas mãos, os educadores. O tipo de futuro que desejamos para nós e nossas famílias, amigos, para todos, depende do amor que depositamos em nossas crianças. Tudo passa pelo amor... O amor que nos faz aninhar um bebê na barriga e nos braços, acordar à noite para alimentá-lo, dar muito beijo e dizer todos os nãos necessários para que aprendam que não são os donos do mundo. Digamos que fazemos parte de uma cooperativa em que cada um tem um pedacinho para ocupar e cuidar, enquanto inquilinos.

Amor para incentivar e elogiar todas as pequenas conquistas e cobrar sempre muito, muito empenho. Para ensinar a dividir, começando em casa, com os irmãos e dali para o mundo...

E mais tarde, que eles possam entender que a gente erra muito... Mas sempre pode recomeçar.

sexta-feira, 21 de novembro de 2008

No smoking

Eu odeio cigarro. Odeio mesmo. Na minha casa não tem cinzeiro há uns 20 anos, pelo menos.

Outro dia estava voltando com minha filha da natação quando uma mulher sollta uma baforada perto de nós e a menina começa a tossir.
- Cheiro ruim, né, amor? A moça está fumando.
- O que é isso?

Engraçado, pensei, ela ainda não sabe o que é fumar. Hora de fazer propaganda contra.
- Tá vendo, tem um cigarro na mão dela, ela acende, bota na boca e tem aquela fumaça fedida. É horrível, até mata.
- É? Então porque existe?

Boa pergunta.

Tem jeito pra tudo

- Olha o desenho que eu fiz pra tia!
- Que lindo! Ah, dá pra mim, tem você, sua irmã, o papai, a mamãe...
- Mas eu botei aqui um M com seta para outro M, viu, você se chama M.?
- Não...
- Então, é pra tia.

Mais tarde, tentando convencê-la a arrumar o quarto, acabo ficando brava. Ela sai amuada e volta, pouco depois, com o desenho na mão.
- Mãe, você não queria? Pode ficar!
- Agora, que você botou essa letra M?
- M de mamãe, ué...

Sala de parto

Minhas duas filhas nasceram em cesareanas programadas. Digamos que sou um tanto metódica e não gosto de ser pega de surpresa. Mas ficar presa em uma mesa cirúrgica é uma das situações em que me senti mais entregue na vida. Você fica lá, naquela cama estreitinha, braços presos tal e qual um Cristo crucificado, imóvel da cintura para baixo.

Na primeira, ainda entrei em trabalho de parto, tudo era novidade, e a dor que sentia só me fazia ansiar pela anestesia. Na segunda já bateu um medinho... Estava um pouco mais velha, com uma filha para criar, não tinha dor de contração para ocupar meus pensamentos, e a gente acaba pensando besteira; fiquei com medo sim.

E é cada equipe que eu pego... A obstetra era uma fofa, mas logo de cara fiquei cabreira com a pediatra. Estavam todos falando comigo ao mesmo tempo, meio que para me distrair enquanto era anestesiada; a pediatra conta sobre uma ocasião em que bebeu muito vinho:
- Passei tão mal, tive que tomar o remédio tal.
- Ah, é? Ele já foi proibido, diz o anestesista.
- Porquê?
- Morte súbita.
A pediatra entra em surto:
- Ai, meu Deus, e eu tomei!
Tive que me intrometer nessa hora, enquanto me aplicavam a peridural.
- Mas faz muito tempo, a morte era súbita...

Enquanto isso olho para frente e vejo minha perna lá em cima como se fosse qualquer objeto e não uma parte do meu corpo. A anestesia já fez efeito, penso. O cirurgião auxiliar se manifesta pela primeira vez:
- Nossa, ela fez uma depilação radical...
Preferiria que tivesse continuado calado.

E do meu lado esquerdo a pediatra começa a fazer propaganda de si mesma.
- Olha, gostei de você, vou adorar acompanhar a sua filha.
Ué, e quem disse que ela iria acompanhar minha filha?
- Meu consultório é logo ali em Ipanema, você só vai lá mesmo uma vez por mês, e se ela passar mal você leva em uma emergência, que pediatra não é pra isso.
Jura??? Comecei a ficar com medo dela.

Bem, felizmente minha filha nasceu bem, linda, esperta e saudável, apesar da pediatra. Mas vocês acreditam que mesmo falando que Ipanema era longe para mim, que ela não era do meu plano de saúde, e, principalmente, que eu já tinha pediatra, ela continuou insistindo e chegou a ligar para a minha casa oferecendo desconto na consulta? Dizia ela que tinha gostado muito da minha filha... Só que, para azar dela, quem gosta mais da minha filha sou eu!

Abraço inesperado

Esta é mais uma da série tem coisas que só acontecem comigo.

Estava voltando do pediatra com a pequena, de carrinho. É um tantinho distante, mas gosto de caminhar. Passando pela Conde de Bonfim, rua bastante movimentada, começou a chuviscar e apertei o passo.

De repente vejo um menino de rua, pequenino, suuuuuuujo até a raiz dos cabelos, brincando. Ele vê o carrinho e vem correndo para minha filha, braços abertos, imitando um aviãozinho.

Imediatamente aflora aquela coisa da mãe superprotetora e penso em todas as bactérias e outras sujidades se aproximando naquele "avião"; dou uma desviada básica, e digo:
- Ih, amigo, a tia tá com pressa, não dá pra parar...
E ele, sem notar meu receio, vem para mim e enlaça minha cintura num abraço carinhoso.

Gente, que fofo! Me senti culpada por ter desviado... Ah, mas pelo menos fiquei com aquele abraço gostoso para mim, mesmo que cheio de micróbios...

quinta-feira, 20 de novembro de 2008

Perdição

Minha filha ganhou um celular do pai, que já está perdido pela casa há uns dois dias. Ainda agora ela o ouviu tocar.
- Mããããe, meu celular tocou mas eu não achei, me ajuda a procurar?
- Você já perdeu seu celular?
- Mãe, se eu ouvi ele tocar é porque não é perdição. É perdiçãozinha.

Fazendo a coisa certa

Sempre me cobrei muito sobre fazer o que é certo. Mas é aí que mora o perigo... A vida é cheia de nuances, e grande parte das vezes fica difícil determinar qual é o lado correto, a decisão acertada, a palavra adequada. Muitas vezes, pensando no problema, deixei o bonde passar e acabei não tomando atitude nenhuma.

Ontem tive a chance de ficar frente a uma pessoa acusada. Acusada de algo grave. É alguém que só conheço de passagem, nunca fomos além do bom dia ou boa tarde, mas muita gente que o conhece diz que ele é honesto. É a impressão que me passa também... Tá certo, quem vê cara não vê corrupção, mas sinto assim.

E ontem ele esteve no meu trabalho. Vi uma pessoa chegar com o canto do olho, e ao me virar me surpreendi com sua presença. Estava contido, talvez na dúvida de como seria recebido pelos colegas, alguns de muitos anos. Não resisti a lhe dar um sorriso e dizer um "oi, tudo bem?"

Voltei ao trabalho e fiquei reparando como os outros reagiriam. Um médico antigo apenas soltou um grunhido em sua direção, outro lhe deu um abraço caloroso. Não pude deixar de sentir uma certa simpatia por este.

E ele ficou ali, esperando sei lá o quê, e também não era da minha conta. Comecei a me arrumar para ir embora, e antes de sair fui até o fundo da sala onde ele estava, apertei suas mãos entre as minhas e disse, com um grande e sincero sorriso:
- Fiquei muito feliz em vê-lo!

E era verdade. Saí dali com a alma leve, pela sensação de não ter julgado ninguém e ter estendido a mão a alguém que, culpado ou inocente, certamente está passando por momentos muito difíceis.

Super sincera...

Estava trabalhando há pouco tempo em uma empresa, já insatisfeita. Muita cobrança, pouco incentivo, e o salário, ó... Apareceu a chance de um concurso para residência da Escola Nacional de Saúde Pública, e uma amiga me convenceu a prestar com ela.

Achei que poderia ser uma boa oportunidade, saúde pública havia me interessado muito durante a faculdade. Seriam oito vagas bastante concorridas, mas não custava tentar.

Inicialmente faríamos uma prova discursiva; os aprovados, o triplo da quantidade de vagas, se não me engano, passariam por uma entrevista que levaria à classificação final.

Fiz a tal prova bem tranquila, mas sem muitas expectativas. E para minha surpresa fui classificada para a próxima fase, a entrevista.

Ah, essa é mole, pensei. Havia feito Internato Rural, e esse tipo de experiência era considerada bastante válida para uma residência em saúde pública.

Bem, lá fui eu. Sempre fui tímida, mas estava estranhamente calma demais. Acho que esse foi o problema...

A entrevista foi em uma sala de reuniões, eu e mais umas 8 ou 10 pessoas. Perguntaram sobre mim, experiência acadêmica, profissional... Falei bastante sobre o Internato Rural e essa foi a melhor parte, pois realmente foi algo que me fascinou. Até que vem a pergunta fatídica:
- Porque você está fazendo esse concurso?
E eu, sincera até a raiz dos cabelos:
- É que uma amiga minha ia fazer e me chamou. Mas se eu não entrar não tem problema, tento ano que vem...

Ai... Não preciso dizer que a entrevista foi encerrada ali, e que eu, obviamente, não fui aprovada. Ô língua... Minha sina ainda seria bater cartão por mais alguns anos...

Humilhação

Estou morando numa rua bem tranquila. Depois de um ano e meio por aqui presenciei o primeiro ato de violência. Estava em meu quarto com a pequena quando de repente ouço, vindo da rua:
- Pega ladrão!

Fui para a janela a tempo de ver uma senhorinha, cabecinha branca, correndo a passos curtos e gritar:
- Minha bolsa, levou minha bolsa, cadê o segurança?
Temos seguranças na rua; são poucos, pagos pelos moradores, pequena minoria. Os que não pagam ainda se acham no direito de cobrar sua atuação.

Meu prédio fica numa curva, ela andou mais um pouco e saiu do meu campo de visão. Vi uma outra senhora chegar dizendo ter encontrado a bolsa, provavelmente deixada para trás pelo ladrão.

Ficou aquele zum-zum-zum, apareceram mais uns senhores, o segurança, todos falando ao mesmo tempo. Mais um pouco e chega um rapaz, trazido por alguns homens, acusado pelo roubo.
- Eu trabalho na padaria, estava passando, não roubei nada!

Fica aquela confusão, um querendo falar mais alto que o outro enquanto que o suposto assaltante fica ali observando, cotovelo apoiado sobre um carro estacionado, soltinho da silva. Fiquei pensando que se fosse realmente culpado já teria "metido o pé". E é o que ele diz em seguida.
- Vocês acham que se eu tivesse roubado alguma coisa estaria aqui esperando?
Acho que não, pensei.

Passados alguns minutos chega um PM. Mais falação, e o rapaz, ali, se dizendo inocente. Mas não escapa da revista. Coisa triste de se ver... O PM ali, apalpando o pobre, abrindo uma caixinha de fósforo, único objeto que portava. Finda a tarefa, mais um pouco de conversa e ele é liberado.
Solta um profundo suspiro, se benze e vai embora a passos lentos.

Assisti de camarote a um episódio de humilhação. Não posso dizer com certeza se aquele homem era ou não culpado, mas e se não fosse? Foi acusado, revistado, achacado... Que vontade que o mundo fosse um pouquinho mais cor-de-rosa!

Consciência humana

Hoje é feriado no Rio de Janeiro, não sei se foi estendido a outros estados, dia da consciência negra. Acho que nunca falei muito sobre o assunto, até porque não consegui ainda elaborar meu ponto de vista claramente como gostaria, e também por ser muito polêmico. Mas vou arriscar aqui, bem superficialmente.

Acho tudo isso muito desnecessário. Eu não tenho orgulho de ser branca ou sei lá o que sou de fato, diante da miscigenação que impera no país. Sou branca e pronto, no shame, no pride. Essa coisa de orgulho da raça até entendo que sirva para levantar a auto-estima de um povo que já foi muito sacrificado, mas deveria haver outro jeito... Um jeito que não tivesse que ressaltar as diferenças de aparência, e sim as individualidades. Que nos igualasse enquanto seres humanos e difereciasse apenas por sermos seres únicos. Que eu não tivesse que me orgulhar pelo tom da pele, encaracolado dos cabelos, formato dos olhos ou nariz, mas pelas minhas conquistas e pelo que eu faço de bom por quem me rodeia. E que passasse obrigatoriamente pela educação de qualidade, para TODOS.

Acho que isso tudo acaba gerando um ressentimento velado, e como disse uma amiga ontem, "ressentimento é como tomar veneno e esperar que o outro morra." E recíproco. Que sente o branco pobre, sem oportunidades, que não tem direito a cotas na unversidade pública. Que sente o negro que enriquece e procura um companheiro de outra raça. Não, não sou contra relacionamentos interraciais (é assim que escreve?), sou contra essa prática como modo de indicar mudança de "status". Amor é coisa de alma, e só.

Acho bacana valorizar a cultura, manter as tradições, sejam africanas, japonesas, européias, indígenas. Isso, sim, é orgulho.

E a gente acaba ficando cheia de dedos tentando ser politicamente correto, quando a vida poderia ser mais simples. Minha filha tem um amiguinho negro que ela adora. Outro dia fez um desenho dele e pintou seu rosto com lápis de cor marrom.
- É que ele é marrom, mãe.
- Não, filha, ele é negro.
- Mas porque não posso falar marrom?

Sei lá porquê. Pra ela tanto faz se ele é branco, negro, azul ou flicts. O que importa é que, para ela, ele é um príncipe.

quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Babá de marmanjo

Meio que complementando o post anterior, achei que uma hora o meu assunto iria acabar, mas volta e meia acontece algo digno de nota.

Estava trabalhando em cima da escala de serviço de dezembro na minha mesinha querida (presente da chefe) quando percebo um dos médicos que ocupa a mesma sala reclamando. A minha sala na verdade é "comunitária", abriga diversas chefias: anestesia, comissão de infecção hospitalar, serviço social, saúde mental, reabilitação, gerência, clínica médica e nutrição.

De repente um desses chefes passa por cima de mim reclamando:
- Pegaram meu aparelho de telefone, aqui tem dois, dá pra dividir, vou pegar esse!
E sem a menor cerimônia se apropria do aparelho que estava na minha mesa!

Fiquei algum tempo, digamos assim, estupefacta, olhando para ele, aguardando que voltasse atrás. Qual o quê.
- Esse aparelho conseguimos com muito custo, e é da Nutrição...
Ele, sem se dar por vencido:
- Mas pegaram o meu, a gente tem que dividir aqui um telefone só (diz isso apontando várias mesas)! Tem um outro ali perto da sua mesa.
- Acontece que esse é da gerência, não tem nada a ver com a gente!
Ele fica parado um tempo em pé a minha frente, como se só naquele momento tivesse me enxergado.
- O senhor não é mole, né? Pegam o seu aparelho, aí o senhor vem e pega o meu?! Sou muito apegada a ele...
Não resisto a levar a palhaçada na brincadeira. Meio a contragosto me devolve o objeto de desejo.
- Humm... Então vou pegar aquele ali, diz, já se apoderando de um outro telefone.
- Isso, pega esse, é extensão daquele ali.
Ocupando aquela sala há muito mais tempo que eu, ele ainda não tinha se dado conta que ali ao seu lado havia uma mesma linha com dois aparelhos.
- É, vou prender ele na mesa.
- Isso, traz super bonder.
Não resisti a esse último comentário.

Não foi o cúmulo da falta de educação?! Só me faltava essa, agora vou ter que virar babá de aparelho telefônico...

Orgulho de uma blogueira amadora

Puxa, estou chegando a 200 visitas, estou orgulhosa... 78 posts em pouco mais de um mês.

Criei minha conta em setembro, animada com o blog da lilly... Escolhi o layout, cores, configurações, e fiquei olhando para o monitor pensando que eu não tinha o que escrever; aí deixei para lá.

Passado algum tempo me veio uma idéia e fiz um pequeno texto; gostei! Não tanto do texto, mas do ato em si, expor pensamentos, ali, só para mim.

Foi difícil abrir para outras poucas pessoas, amigas. A primeira, óbvio, lilly. Sabia que ela iria ler sem preconceitos ou julgamentos precipitados.

Não sei quanto tempo essa animação vai durar, mas realmente escrever vicia; me pego várias vezes durante o dia pensando nas mais variadas coisas para contar.

Pensamentos, pensamentos... Fico espantada ao ver como estão brotando tão espontaneamente... Hoje estou feliz com a experiência. E enquanto estiver, continuarei por aqui!

Pantanal e Capitu

Tô preocupada com essa coisa do Sílvio Santos mudar o horário de Pantanal, vai começar a palhaçada. Até que durou muito, desde o começo sem alteração nenhuma.

E fiquei curiosa com umas chamadas da Globo para dezembro, Capitu; recentemente esse tema da traição da dita cuja tem sido assunto recorrente, vamos ver se é alguma minissérie com um olhar diferenciado. Por enquanto, eu sou a única a acreditar na sua inocência...

A chefe

Fiz um concurso para o estado em 2001 em que já escolhíamos na inscrição o hospital de destino. Passei, e ao tomar posse, soube que ele estava fechado, em obras, sem previsão de reabrir tão cedo. Mas havia um convênio firmado com um Instituto do Ministério da Saúde, e eu iria para lá.

A idéia até que não me desagradou por completo, pois era bem localizado e tinha uma estrutura diferencida para quem está acostumado a trabalhar em serviço público.

Mas não foi tão bom assim... A chefe era no mínimo exigente, e logo de cara me colocou e à outra colega em uma posição delicada, supervisionando o pessoal terceirizado que até então reinava por lá. Difícil fazer amigos assim...

Várias situações estressantes me fizeram odiar o lugar, e muitas vezes fui chorando no carro até o trabalho. Não via a hora que meu hospital abrisse!

Um dia fiquei sabendo que poderia solicitar a transferência, digamos assim, da minha matrícula do estado para o município, para a unidade onde já estava há alguns anos. Puxa, que oportunidade! Mas o quadro do tal Instituto era deficitário, dificilmente a chefe me liberaria, e eu precisava do consentimento dela.

Me informei de tudo que precisaria ser feito, o pedido teria que sair da unidade municipal, e então percorreria um longo caminho até o destino final, a chefe. Mas antes de tudo quis conversar com ela, pois não gosto de fazer nada pelas costas dos outros. Além do que seria muito chato que ela fosse surpreendida com um ofício pedindo a minha remoção.

Me preparei por dias para essa conversa, certa de que ela negaria. Criei uma série de possíveis diálogos mentais, nos quais enumerava as vantagens que eu teria: o hospital era mais perto de casa, era minha unidade de fato, o horário era melhor, tinha até estacionamento...

E lá fui eu...
- L., quero falar com você...
- Entra.
- É que surgiu uma oportunidade de que eu seja transferida daqui para o hospital J. e gostaria que você me liberasse.
Pronto. Cartas na mesa. Ela me olha fixamente por uns poucos segundos que me pareceram uma eternidade, impenetrável.
- Está bem.
- Está?
Nunca esperei que fosse tão fácil!
- Garota, eu jamais iria sacanear um bom funcionário. Se você acha que é melhor, vai. Eu acho burrice.
Devo dizer que ela amava aquele lugar, e achava que ali eu teria melhores oportunidades.

Mas eu fiquei ali, parada, meio sem reação, mil coisas passando pela cabeça. Como as pessoas são imprevisíveis... Sabia da importância que eu tinha para o Serviço e a falta que faria, e mesmo assim ela estava me deixando ir.

A partir desse dia comecei a encarar aquele lugar de um modo diferente, e dia após dia me apaixonei um pouquinho. Meses depois, quando recebi o ofício de volta com a negativa do Secretário de Estado de Saúde, já não estava mais querendo sair.

Aquela mulher é muito esperta... Tenho certeza que naquele dia em que me libertou, ela sabia que estava plantando em mim a sementinha da vontade de ficar!

terça-feira, 18 de novembro de 2008

Amigo oculto

Desde pequinininha acostumei minha filha a valorizar todo e qualquer presente. Podia ser um lápis ou um notebook de brinquedo, a festa que eu fazia com ela era a mesma.

Temos um grupo de amigos delicioso, formado na creche que ela frequentou desde bebê. Temos encontros periódicos, alguns aqui em casa, e todo ano fazemos uma festa de Natal com amigo oculto para as crianças.

Ano passado a hora da troca de presentes foi bem legal, pois elas estavam maiores e já entendiam a dinâmica da brincadeira. Eram mais ou menos umas quinze crianças, e nada de aparecer o amigo da minha filha. Ela já estava impaciente, e a cada presente se voltava para mim:
- Mãe, não vai chegar a minha vez?
- Calma, já vai.

Mais um e nada. E outro, e ela agitada.
Até que uma de suas amigas preferidas diz seu nome e lhe entrega o embrulho, toda feliz.
Ela, ansiosa, se esquece de agradecer e abre o pacote rapidamente. Mas...
- Eu já tenho essa boneca!
Ai... A sinceridade das crianças...

A mãe da amiga, solícita, se apressa em dizer que a troca é fácil na loja em que comprou. Enquanto isso minha filha está olhando para a boneca, como que avaliando o presente. De repente abre um sorrisão e o abraça apertado, olhinhos fechados:
- Mas a caixinha é linda...

Adulto pequeno

- Amor, trouxe o seu jantar.
- Mãe, eu não sou bebê.
Continua arrumando a gaveta, com ar importante, e não me dirige o olhar.
- Eu sei...
- Agora eu sou uma adulta.
- Ih, botei comida pra criança, acho que vou aumentar a quantidade, adulto come mais...
- Mas eu sou adulto pequeno, igual minha dinda.
De fato, a madrinha tem 1,45m. Tem resposta pra tudo essa menina!

Ladrão

Estava sentada no fundo do ônibus, distraída com meus pensamentos, como sempre. De repente reparo na trocadora inquieta, parecendo querer falar com alguém aparentemente atrás de mim.
- A senhora quer falar com alguém?
- A moça esqueceu o troco, me deu dez reais...
Olho para trás, e quase todo mundo já fazia o mesmo. Pensei que não esqueceria o troco de dez reais.
- Alguém aí ficou sem troco?
Nenhuma voz feminina responde, se levanta um rapaz com uniforme de escola municipal e diz:
- Não, não, não tem ninguém sem troco!
Me volto para a frente, vendo que a trocadora não tinha ficado muito satisfeita, e tento retornar ao pensamento abandonado momentos antes.

De repente começa um falatório:
- E aí, ele te assaltou?
- Pediu dinheiro, eu disse que não tinha, aí ele mexeu no celular mas devolveu e desceu...
Aí a trocadora desabafa:
- Eu tinha percebido que era assalto, tentei chamar você para a frente...
- É, mas fiquei com medo que ele estivesse armado!

Puxa, e eu não percebi nada! Não dá para ficar assim desatenta em ônibus. Fiquei mal-acostumada nesses últimos quinze anos em que só usei automóvel, mas agora, por conta de mudanças no meu horário, meu marido não está podendo me buscar no trabalho, só levar.

E a trocadora foi legal, né? Acabou se expondo, certamente o rapaz não levou nada de mais ninguém por conta da movimentação que ela provocou.

Menina, nem uniforme de escola salva!

Didática zero

Não tenho paciência para explicar nada a ninguém. Ou melhor, tenho sim, mas só uma vez. Ensino com toda a calma do mundo, mas se a pessoa não entende... Acho que é porque quando algo me parece fácil, não acho o modo certo de passar a informação adiante, e o que acaba me irritando mais é minha dificuldade em me fazer entender pelos outros.

Esse é um exemplo clássico: estava no trabalho com minha chefe e a secretária quando chega uma escala de serviço de um hospital para o qual fornecíamos refeições transportadas. Elas estavam reclamando que a mesma estava muito mal feita, e que não dava para entender nada; resolvi pegar para dar uma olhada:
- Ué, é 12 por 60!
Esse é um tipo de escala em que se trabalha um plantão de 12 horas com folga de 60, ou seja, 2 dias e meio.
- Como você sabe?
Me olharam as duas querendo entender como eu tinha chegado a essa conclusão. E aí morava o problema... Enxergar, eu enxerguei, e pra explicar?

Lá fui eu, barrigão de quase 9 meses da primeira filha, em pé à esquerda da chefe que estava sentada à mesa, a secretária em pé à sua direita.
- Olha, só pode ser 12/60 por isso, isso e isso, entenderam?
Uma encara a outra com jeito de que não haviam entendido bulhufas.
- Não.
Aí já passei a mão na testa, irritada, para tirar o suor.
- Presta atenção, é por isso, isso e ISSO! E agora?
As duas:
- Não.

Cara, a terceira vez, então, é o fim... Já sentindo o suor escorrer pelas pernas explico tudo de novo, já sem um pingo de paciência.
- E agora?
- Ah, agora entendemos...
Ufa! Suspirei aliviada e saí feliz com a sensação de dever cumprido. Mal deixei a sala minha chefe pergunta à secretária:
- E aí, entendeu?
- Não, e a senhora?
- Também não. Mas fiquei com medo de perguntar de novo...

Segredo!

Estou adorando esse novo quadro do Fantástico, Neuro Lógica. Essa coisa de que é difícil manter segredo porque para o cérebro é muito mais fácil contar a verdade (pois guardar a informação soa como mentira) absolveu 100% da humanidade!

Eu, então, agora estou um perigo... Só consigo guardar alguma coisa se registrar como fato importante. Se meu pequeno cérebro classificar como baboseira, pode ter certeza que eu vou esquecer quem disse e que era segredo, e vou soltar na primeira oportunidade. Ou seja: é melhor não me contar nada.

segunda-feira, 17 de novembro de 2008

Chove, mas como chove...

Chove horrores no Rio de Janeiro. Aquela árvore que eu gosto tanto parece querer invadir minha janela, me lembra agora o salgueiro do Harry Potter. Não resisto à tentação de citar Cocoricó:

Chove, mas como chove,
Chuva, chuvisco, chuvarada,
Porque é que chove tanto assim?
Quando chove
A terra fica molinha
A grama fica verdinha
E eu fico todo molhado
Com o pé na lama
Meu nariz tapado
Minha avó me chama
Menino, vem cá, vem tomar chá
Vem comer bolo de cenoura
Com cobertura de chocolate quente
Bom, muito bom, muito mais do que bom, é excelente
Oh, que tarde tão bela
Banana quente no forno com açúcar e canela
Chove, chove, chove, deixa chover
Enquanto tiver bolo de cenoura a gente nem vai perceber
Chove, chove, chove, deixa chover
Comendo banana quente a gente nem vai perceber!

Tem imagem melhor pra um dia de chuva que o cenário descrito na música?

Que médico é esse...

Tem coisas que só acontecem comigo.

Estava na 24ª semana de gestação em um churrasco na casa de amigos em Itaipu. Tive a infeliz idéia de segurar no colo uma amiguinha da minha filha, que foi prontamente retirada de mim por meu marido, com um olhar de repreensão. Até aí tudo bem, não senti o esforço, e continuamos por lá, as crianças se divertindo na piscina.

No fim da tarde quando fui ao banheiro notei uma mancha de sangue escuro na calcinha. Imediatamente falei com meu marido e viemos embora. No caminho consegui falar com a obstetra, que pediu que eu fosse pra emergência da Perinatal e a mantivesse informada.

Chegando lá ainda tivemos que esperar um bocado, acho que tinha muita gente na minha frente e apenas um obstetra atendendo. Já estava bem estressada quando me chama um médico, digamos, 1,80m x 1,80m , ou seja, com uma circunferência abdominal no mínimo preocupante. Me faz entrar no consultório e indaga qual o problema.
- Estou na 24ª semana de gestação, tive um sangramento e a ginecologista me mandou pra cá.
- E ela quer que eu faça o quê?
- ???
- Ela te mandou aqui pra quê?
- Pro senhor me examinar, imagino...
- Você quer que eu faça o quê, toque, ultrassom?
- O senhor não sabe?

Caramba, quem era o médico? Eu que tinha que saber o que fazer com uma gestante com sangramento?
- Tá bom, vamos fazer um ultrassom.

Me encaminha para a mesa de exame, eu e meu marido já ressabiados. Olha minha filha na tela:
- Bebê se mexendo, bebê saudável. Já sabe o sexo?
Mais aliviada ao ver minha filha bastante animada no monitor, respondo:
- Sei, é menina!
- Nossa, que xerecão!

Não sou exatamente pudica, mas comentários desse tipo vindos de um desconhecido me fazem corar dos pés a cabeça. Logo imaginei se a menina teria alguma pererecomegalia.

Bem, criança saudável, hora das últimas recomendações.
- O senhor acha que eu devo fazer repouso?
- Você faz rafting?
- Não...
- Rapel?
- Também não.
Ficou me olhando em silêncio com cara de paspalho, como quem diz: "se manda, minha filha, não vai rolar atestado!"
Achei melhor pegar meu marido, filha e barriga e sair dali antes que não resistisse ao ímpeto de verbalizar as coisinhas pouco educadas que estavam me ocorrendo no momento.

Puxa, não quer brincar, não desce pro play! Se não gosta de trabalhar final-de-semana, vai ser bancário!

Ah, antes que eu me esqueça: a menina não tem pererecomegalia! (É claro que eu verifiquei...)

Coxinhas explosivas

Estava na piscina de um clube com uma amiga e não pudemos deixar de notar uma senhora, um tanto acima do peso (para ser bem delicada) em uma mesa próxima, se enchendo de salgadinhos.

Lá pelas tantas fomos para o vestiário, e já estávamos nos penteando para ir embora quando entra a dita cuja, calmamente, e vai para o banheiro. Gente... Pelo som que veio do reservado a impressão era de guerra no morro entre facções rivais; na mesma hora arregalamos os olhos uma pra outra e tivemos que correr, cada uma para um reservado, para que nossas risadas não fossem mais altas...

É nisso que dá se entupir de coxinha...