Tem coisas que a gente não consegue explicar mesmo.
Durante muitos anos minha mãe manteve um casamento do tipo cada um na sua casa, juntos nos finais de semana. Estes eram invariavelmente na casa dele. Nos últimos anos ele adoeceu e passou a ficar mais dependente dela, que, assim, ficava períodos maiores ausente. Com a netinha pequena em casa, começou a ficar incomodada, com saudades, e um determinado dia achou melhor trazê-lo com ela.
Pois bem, desde a primeira vez que botou os olhos nele, a menina, que devia estar com uns dois anos, chorava e demonstrava um medo sem explicação. Ela passou a não circular pela casa, se quisesse sair de algum cômodo esticava a cabeça através da porta para se certificar que ele não estaria pelo caminho, e só saía de mãos dadas com alguém.
Ficava com peninha dela, que havia perdido a liberdade dentro de casa e não sabia verbalizar porquê, da minha mãe, que não queria sair do seu canto, e dele também, já idoso, enfraquecido, provavelmente incomodado por alterar a rotina da família.
Depois de algum tempo ele melhorou e resolveu voltar para sua casa. Uns dois meses depois, nova recaída. Estava no trabalho almoçando quando minha mãe ligou para avisar que estava indo para nossa casa com ele. Respirei fundo e pedi à Deus que não acontecesse o mesmo da outra vez.
Quando meu marido foi me buscar contei a novidade e ele demonstrou o mesmo receio, mas não comentamos mais o assunto. Era uma quinta-feira, dia em que costumávamos tomar um passe em um centro próximo de casa. Pegamos nossa filha na creche e fomos todos juntos . Ficamos boa parte do caminho em silêncio, cada um com seus pensamentos; tomamos o passe e fomos embora. Quando meu marido pegou a chave para colocar na fechadura, a pequena nos surpreendeu com a seguinte frase:
- Eu não quero ver o vovô!
Eu e meu marido trocamos olhares arregalados, pois como ela poderia saber? Nenhum dos dois havia falado nada na frente dela... E também não tivemos coragem de perguntar de onde ela havia tirado a idéia de que ele estaria lá em casa.
É a tal da sensibilidade das crianças, mas que susto levamos...
Realidade
Há 11 anos
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