sábado, 17 de janeiro de 2009

Pão doce


Estava certa vez em casa, sozinha, uns vinte anos atrás. De repente o porteiro interfona:
- Deixaram um pacote aqui para você!
- Quem?
- Não sei, uma moça...

Como de hábito nesses casos, pedi que colocasse no elevador para que eu o pegasse. Era um embrulhinho de padaria, com aquele papel com que se enrolava bisnaga antigamente. Abri, e lá estava um lindo pão doce! Sem pensar muito, comi tudo de uma vez, feliz com o presentinho inesperado.

Voltei para minha novelinha, já digerindo, quando me deu um estalo: quem poderia ter me mandado? Imediatamente senti um frio na espinha. E se estivesse envenenado? Nesse momento perdi qualquer possibilidade de pensar racionalmente e concluir que não conhecia ninguém que poderia querer me envenar, aos dezesseis anos, com um pão doce deixado candidamente no meu prédio. Tentei o porteiro novamente:
- Como era a moça que deixou o embrulho?
- Ah, não lembro, desceu de um carro, deixou o pacote e foi embora...

Pronto, não tinha jeito. Solene, concluí que só tinha uma solução: enfiar o dedo na goela. Segui, digna, até o banheiro e encarei minha missão inglória com bravura. Tudo terminado, me deitei, feliz por ter salvo minha vida.

Algum tempo mais tarde, minha mãe chega em casa.
- Oi, filha, tudo bem?
- Tudo...
Altruísta, resolvi poupá-la do ocorrido para que não se preocupasse.
- E aí, gostou do pão doce que a minha amiga deixou pra você na portaria?

Sem comentários. Só posso dizer que estou feliz por não ter mais dezesseis.

4 comentários:

Anônimo disse...

e voce contou o que fez com o pobre pão doce, que nem tinha sido digerido ainda? rsrsrs

Cacau! disse...

Foi esgoto abaixo!

Anônimo disse...

mas voce contou pra sua mãe? rsrsrs

Cacau! disse...

Acho que sim, não lembro... Devo ter falado algo do tipo: "não acredito que enfiei o dedo na goela a toa!"