sábado, 3 de janeiro de 2009

Os medos da vovó

Tenho que falar agora um pouco sobre minha mãe.

Já contei que nunca me casei de fato, meu marido começou passando uma noite em minha casa, mais outra, foi ficando, nossa filha nasceu, até que a casa ficou pequena para abrigar uma segunda criança, que estava em nossos planos. Comecei a procurar um apartamento de dois quartos, até que minha mãe questionou:
- Ué, e eu?
- Você quer contiuar a morar conosco?
- Claro!

Na verdade, seu maior receio era ficar sozinha... Resolvemos, então, vender o apartamento pequeno e comprar um maior, que comportasse a família toda. Conseguimos o planejado, um antigo, mas bastante amplo, cheio de possibilidades para meu marido, que trabalha com reformas e marcenaria.

Mas não temos porteiro... O prédio é pequeno, apenas oito apartamentos, cheios de portas e fechaduras. Por conta disso, estou me habituando a viver trancada, diariamente a noite minha mãe cerra as portas da área, do corredor... A da cozinha foi só até o dia que acordei de madrugada com sede e não consegui abri-la, tantos eram os trincos, um para a esquerda, outro para a direira, uma papaiz, outra chave... Minha prima, que foi comissária de bordo, acostumada a ter que solucionar problemas de segurança rapidamente, fica apavorada cada vez que vem aqui. Acha que se tivermos uma situação em que precisemos sair rapidamente, tantas portas fechadas serão um problema...

Bem, isso tudo para contar algo, no mínimo, sem sentido. A sala e dois dos quartos são de frente, e os quartos se abrem para uma boa varanda. Esta se comunica com a lateral da sala, por uma porta de madeira branca, com vidros, daquelas que cada lado tem duas "bandas" com uma fechadura que as fixa ao chão em cima e embaixo. Assim, mesmo com a porta do corredor fechada, nos isolando da área social, um "invasor" poderia entrar facilmente da sala aos quartos, pela varanda. Minha mãe achou, então, uma brilhante solução: toda noite, antes de dormir, fechava a tal da porta e a obstruía, por dentro, com todos os brinquedos da neta: uma casinha de bonecas daquelas grandes, de pano, uma bicicleta, um velocípede... Até hoje não consigo entender a finalidade disso além da de me irritar, pois pela manhã quem arrumava a bagunça, invariavelmente, era eu... Por mais que todos falassem, só parou com essa estranha rotina depois que meu marido colocou um trinco enorme na tal porta. Que continua a não oferecer segurança alguma, já que qualquer peteleco pode quebrar o vidro que dá acesso a ele...

Nenhum comentário: