quinta-feira, 30 de outubro de 2008

Pelo telefone


Amanhã faço nove anos de casada. É engraçado, mas depois desse tempo todo, uma vida em comum, casa, dívidas e duas filhas a palavra "casamento" soa distante da minha realidade. Uma vez me disseram que como minha mãe mora conosco e tenho empregada é como se eu tivesse ficado com a parte boa do casamento, sem as responsabilidades. Um tanto simplista demais essa explicação, mas com um fundilho de verdade.

Bem, mas hoje escrevo em homenagem a esse homem que me atura. Vou contar como foi nosso início de estória, no século passado, dia das bruxas...

Nos conhecemos quatro anos antes, no trabalho. Desde o início achei-o interessante, mas um tanto antipático a primeira vista. Antes que fosse tomada por qualquer pretensão romântica, me contaram que era casado. Na verdade, depois fiquei sabendo que ele só se casou mesmo um ano depois, ô povo mal informado! Bem, mas tudo tem seu tempo certo. E como "furadas" desse tipo nunca fizeram a minha cabeça, ficou cada um no seu quadrado.

Mas eu aaaaamo mate, e ele na época cuidava da cantina do pai. Todo dia lá estava eu, e como o bichinho faaaala pelos cotovelos, ficava de bate-papo pra dar um tempo na rotina. Não sei bem em que momento comecei a reparar que eu estava tendo mais atenção que as outras pessoas, fato que ele nega até hoje! Mas que foi, foi. Bem, jogar conversa fora, ok, mais que isso, sem chance.

Aí o pai dele infartou... Era um senhor muito fofo, querido por todos, e fiquei sentida. Um belo dia ele estava meio triste, quis conversar e concordei em darmos uma volta na praia. Tomamos água de côco, caminhamos, e só, estava prestando solidariedade a um conhecido, e ele se comportou bem. Mas depois disso... Por duas semanas recebia telefonemas diários, a noite, mesmo tema:

- Vamos sair?
- Não.
- Cinema?
- Não.
- Praia?
- Não?
- Por quê?
- Não saio com homem casado.
- Mas eu me separei...

De início não acreditei. Como as ligações continuavam acabei considerando a possibilidade dele estar sendo sincero. Mas aí achei que poderia haver uma chance de reatarem e continuei a recusar. Dizia que só depois do divórcio... Depois de duas semanas assim, resolvi sair com ele pra botar um ponto final na estória. Fomos comer uma pizza na Barra e passei a noite falando de um outro cara que eu estava a fim. Ele até aturou bem o papo, e depois de comer fomos dar uma volta pela orla. Aí, fracasso total: tentou me beijar e que fiasco! Foi meio inesperado e sinceramente eu não estava querendo. Tudo bem, ele não insistiu e voltamos.

Depois disso pensei que ele não ligaria mais. Que nada... Na noite seguinte lá estava o telefone tocando de novo. Mas num determinado momento da conversa ele me dispensou para dormir. Que audácia! Nada como o orgulho ferido para despertar o interesse de uma mulher! Ofendida, liguei de volta e disse uma série de desaforos. Pronto, agora tinha sido o ponto final! Pelo menos até o outro dia, mesma bat-hora, mesmo bat-canal. Palmas para ele e essa insistência! Finalmente foi convidado a vir à minha casa, e a partir de então não me lembro de termos ficado mais que um dia sem nos falar. E talvez devido a esse começo à la Graham Bell, mesmo morando juntos, é pelo telefone que muitas vezes nos comunicamos mais...

E foi assim, num dia das bruxas, véspera de todos os santos, que começamos a nos conhecer e gostar de fato. Temos momentos bons, ruins, altos e baixos como qualquer casal. Mas sou muito grata a ele por dois motivos: antes de mais nada pelas nossas filhas lindas e pelo pai maravilhoso que ele é, com toda maluquice que lhe é peculiar; e também por ter me ensinado a conviver, ou viver com, tanto faz. Com ele descobri que não preciso dele nem de homem algum para ser feliz, mas com ele, com certeza, vivo melhor... Enquanto a vida quiser...

Ah, só uma curiosidade: não sou ciumenta, e nunca me interessei por detalhes da estória dele com a ex-mulher. Ele, discreto, também não comentava nada. Quando o divórcio finalmente saiu, nossa filha mais velha já estava com uns dois anos e... Surpresa! Pela certidão , descobri que o casamento havia acontecido na mesma data em que nossa pequena nasceu. Mas não me incomodei, ri um bocado...

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