Bem, bem, bem. Adoro contar meus micos.
Acho que contei em algum post que fiz internato rural, e como a experiência foi enriquecedora. Mas nem tudo é perfeito.
A gente vivia numa comunidade multidisciplinar quase hippie, médicos, enfermeiros, dentistas e eu, nutri, na mais perfeita harmonia. Coisa que infelizmente poucas vezes experimentei profissionalmente.
Enfim, o período de um grupo de dentistas estava se encerrando, e eles resolveram apresentar uma pecinha de teatro em uma das escolas da cidade. Aquela coisa de ensinar cuidados básicos de higiene bucal, prevenção de cáries, whatever. Todos contribuímos com o texto, fantasias, e ia tudo muito bem até que eu fui intimada a atuar. E eu era a miss timidez em pessoa.
- Olha você vai ser a maçã.
- Quê???
- É, a maçã. Você não é nutri? Então, maçã.
E eu estava no momento caprichando no colorido vermelhinho da fruta, desenhada em cartolina que seria colada em isopor. Isso mesmo, mulher sanduíche. Ou melhor, mulher fruta. Acabei de me dar conta que devo ter sido a precursora dessa coisa de mulher salada de fruta, já que isso se passou em, hã-hã, 1990.
Ai, ai, ai, resolvi encarar meus fantasmas e aceitar convite tão sutil, em nome do coleguismo. E também porque um dos dentistas era um gato. Ou melhor, dois... Mas o pior ainda estava por vir.
- Já decorou a música?
- Que música?
- A que você vai cantar...
Gente, não bastava o mico de mulher sanduíche eu ainda teria que cantar. Comecei a achar que alguém estava querendo me sacanear. Tive certeza quando me apresentaram a letra:
"Eu sou a maçã
Vermelhinha e gostosinha
Que me comem todo dia
Para ter mais energia."
Isso no ritmo Teresinha de Jesus. Sentiram?
- Como assim, me comem todo dia???? O negócio é pra criança...
Bem, rolou muita argumentação mas não consegui mudar a letra. Me conformei com meu destino e vamu que vamu.
Dia da apresentação. Palco montado no meio do pátio da escola, apinhado de aluninhos, seus pais e professores. A impressão era de que a cidade toda estava lá.
E lá estávamos nós. A nutri-cenoura, o odonto-escova, o médico-fio dental and so on. Friozinho na barriga, estava chegando a minha vez. Porque só eu ia cantar? Mistério. Nisso alguém me empurra:
- Vai, maçã!
Olhei aquele povo todo, respirei fundo e disparei:
- Eu sou a maçã...
Óbvio. Isso todo mundo estava vendo. Até aí tudo bem.
- Bonitinha e gost...
Nesse ponto a massa do bolo desandou. O gostosinha não saiu nem que a vaca tussisse, mugisse e cantasse o hino nacional em grego. Tive um acesso de riso daqueles sem controle. O pior é que eu ria sozinha, dezenas de olhinhos me fitavam, sérios, sem entender nada. Silêncio total. Tentei começar de novo.
- Eu sou... Kkkkkkkkkk!!!!
Gente, como o palco é solitário... Estava eu lá, artista incompreendida, nem um risinho amarelo da plateia para me apoiar. Só me lembro de ter sido subitamente arrancada de lá, aos costumes.
- Eu avisei que isso não ia dar certo...
Mas acho que deu sim. Pelo menos até hoje eu dou muita risada quando lembro desse mega King Kong...
5 comentários:
nossa, eu pagava para ter visto! deve ter sido de chorar de rir! rsrsrs (to rindo até agora imaginando a cena!)
Se fosse hj, aposto que a cena estaria registrada em algum celular. Mas isso foi em mil novecentos e vodghgkdfnvdfs.
Putzgrila!... Nem em sonho eu pagaria um mico desses! E olha que gosto de um palco! Rsrsrsrsrs
Tb tô aqui imaginando a cena... HUAHUAHUAHUA!
Cacau, com essa você me alegrou o dia. Conseguiu me fazer chorar de rir. Mulher-maçã???? Tá se revelando hein? Agora fala sério, quem inventou essa letra era retardado. Óbvio que ia dar confusão! Não dá para ser tão inocente assim!!!!
bjs.
Ou retardado ou sacana...
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